quarta-feira, 18 de maio de 2011

Polêmica "nós pega os peixe" II

Segue link para trecho do livro de Heloísa Ramos, Para viver melhor.
Leiam e comprovem:
http://www.acaoeducativa.org.br/downloads/V6Cap1.pdf

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Polêmica "nós pega o peixe".

Olha, pra falar sobre isso com mais propriedade, precisaria, pelo menos, dar uma vista d'olhos no livro de Heloísa Ramos. No entanto, emitirei algumas opiniões.
Parece-me, mais uma vez, "muito barulho por nada"; mais estratagema político para falar mal do PNLD e do MEC, do que uma preocupação e uma discussão genuína sobre como a língua deve ser apresentada às crianças.
Não conheço o livro "Para viver melhor" em detalhes, mas não é a primeira vez que um livro mostra às crianças os vários níveis de linguagem. Mario Bagno, só pra citar um exemplo, tem seu "A língua de Eulália" adotado há anos em escolas. E o livro é maravilhoso.
Antes de sair dizendo frases como a do autor Luiz Antonio Aguiar, "Está valendo tudo. Mais uma vez, no lugar de ensinar, vão rebaixar tudo à ignorância", é preciso ler com cuidado como o livro contextualiza frases como "nós pega os peixe". É fato que na linguagem mais cotidiana TODOS, repito, TODOS, fazem algum tipo de dita "incorreção". Eu não declino alguns plurais quando estou animada, conversando entre amigos, informalmente. Minha família é da Mooca, italianos, passei a infância no Tatuapé e, confesso, falo como os imigrantes italianos, sem declinar os plurais nos substantivos, apenas nos artigos. Sim, quando estou tomando umas "cerveja" com os "amigo", sentada nas "cadeira" do boteco, comendo uns "petisco", é assim que eu, revisora e preparadora, falo.
Sendo assim, qual o problema de se apresentar as crianças as diferentes formas do falar, as diferentes formas em que a língua se manifesta? Não concordo quando afirmam que "Os livros servem para os alunos aprenderem o conhecimento erudito". Livros são meios de informação, de todo e qualquer tipo, sobre o mundo, a vida. É tendo contato com a diversidade que o aluno vai apurar seu senso crítico, encontrar sua forma própria de se manifestar linguisticamente, escolher o tipo de literatura que fala mais ao seu coração e apurar o gosto ali, onde se sente bem, onde se sente mobilizado.
Acho muito corajosa a escolha dos responsáveis pela seleção do livro. Duvido que tenham sido irresponsáveis. A própria autora afirmou que não tem intenção de ensinar errado, "mas deixar claro que cada linguagem é adequada para uma situação. Por exemplo, na hora de estar com os colegas, o estudante fala como prefere, mas quando vai fazer uma apresentação, ele precisa falar com mais formalidade. Só que esse domínio não se dá do dia para a noite, então a escola tem que ter currículo que ensine de forma gradual".
Vale ressaltar, ainda, que o livro foi comprado para Educação de Jovens e Adultos. Os críticos já pararam para pensar quem é o público de EJA? É preciso aproximar o livro e a língua culta de maneira cuidadosa para não desestimular o aluno, principalmente esse público. Nada melhor que usar termos de adequado e inadequado, como sugere Heloísa Ramos, e não de certo e errado.
A norma culta é arbitrária, não é “natural” ou a “verdadeira”; é uma convenção histórica e que, graças a Oxalá, se atualiza também, também sofre influência dos padrões informais, da língua falada, cotidiana. Então, “deixemos de coisas e cuidemos da vida”. Vamos fazer esse país ler! Ler errado, ler certo, ler Crepúsculo, ler Machado. O caminho para formar cidadãos é a informação, ler é informar-se, ler sem preconceitos é ampliar horizontes.