terça-feira, 15 de novembro de 2011

''Podemos mudar o mundo imitando as borboletas''. Artigo de Zygmunt Bauman

Para construir uma verdadeira comunidade, não ignoremos os pequenos gestos. A globalização negativa não considera hábitos e necessidades locais. Abraça poderes como as finanças e o capital. Há um grande número de mulheres e homens corajosos que podem mudar a história. Ajudemo-los a bater as asas.
A opinião é do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, em artigo publicado no jornal La Repubblica, 14-11-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Em que mundo eu gostaria de viver? Na verdade, não posso dizer muito. Isso porque, em primeiro lugar, em 60 anos de empenho na sociologia, nunca fui bom em profetizar. Em segundo lugar, no fim de uma vida imperdoavelmente longa, a única definição de boa sociedade que eu encontrei diz que uma boa sociedade é tal se acredita não ser suficientemente boa. Portanto, prefiro me concentrar não tanto no mundo em que queremos viver, mas sim no mundo em que devemos viver, simplesmente porque não temos outros mundos para os quais escapar. Refiro-me a uma citação de Karl Marx, que afirmava que as pessoas fazem a sua própria história, mas não nas condições escolhidas por elas. Todas as vezes que eu a ouço, lembro-me também de uma historinha irlandesa que nos fala de um motorista, que para o seu carro e pergunta a um transeunte: "Desculpe-me, senhor, poderia me dizer por gentileza como posso chegar a Dublin a partir daqui?". O transeu nte para, coça a cabeça e depois de um tempo responde: "Bem, caro senhor, se eu tivesse que ir a Dublin não começaria daqui". Este é o problema: infelizmente, estamos começando daqui e não temos nenhum outro lugar de onde partir.
Portanto, pretendo sublinhar como o mundo do qual partimos "voltados para Dublin", seja lá o que Dublin queira dizer, está cheio de desafios e de tarefas urgentes, substancialmente improcastináveis. Penso que, se o século XX foi a época em que as pessoas se perguntavam "o que" precisava ser feito, o século XXI será cada vez mais a era em que as pessoas farão a pergunta sobre "quem" fará o que deve ser feito.
Existe uma discrepância entre os objetivos e os meios à nossa disposição. Meios que foram criados pelos nossos antepassados, que deram vida ao Estado-nação e o dotaram e armaram de muitas instituições extremamente importantes, feitas à medida do Estado-nação. No que se refere ao Estado-nação, ele era verdadeiramente o ápice da ideia de autogoverno e de soberania, a ideia de estar em casa, e assim por diante. Acima de tudo, o Estado-nação era um meio confiável e impecável de ação coletiva, instrumento para alcançar os objetivos sociais coletivos.
Acreditava-se nisso para além da diferença entre "direita" e "esquerda". O Estado-nação era capaz de implementar as ideias vencedoras. Por que era assim? Porque o Estado-nação era considerado, e em grande parte o foi por bastante tempo na história, a fazenda do poder e da política. O matrimônio entre poder e política é um casamento celebrado no céu, nenhum homem pode destruí-lo. Poder significa habilidade em fazer as coisas. Política significa habilidade em dirigir essa atividade de fazer as coisas, indicando quais coisas devem ser feitas.
Ora, o que está acontecendo hoje é a indubitável separação, uma perspectiva de divórcio, entre poder e política. Poder que evapora no ciberespaço e que se manifesta naquilo que eu chamo de "globalização negativa". Negativa no sentido de que se aplica a todos os aspectos da vida social que têm uma coisa em comum: trata-se do enfraquecimento, a erosão, a não consideração dos hábitos locais, das necessidades locais. A "globalização negativa" abraça poderes como as finanças, o capital, o comércio, a informação, a criminalidade, o tráfico de drogas e de armas, o terrorismo etc. Ela não é seguida pela "globalização positiva". Em nível global, não temos nada de remotamente semelhante à eficácia do instrumento do controle político sobre o poder, da expressão da vontade popular, isto é, da representação e da jurisdição, realidades que se desenvolveram e foram bloqueadas no nível do Estado-nação.
À luz dessa discrepância, todas as vezes em que ouço o conceito de "comunidade internacional", eu choro e rio ao mesmo tempo. Nós ainda nem começamos a construí-la. Os nossos problemas são verdadeiramente globais, mas só possuímos os meios locais para enfrentá-los; e eles são despudoradamente inadequados para a tarefa. Por isso a pergunta que eu sugiro provavelmente é questão de vida ou de morte para o século XXI. Quem vai se ocupar disso? Essa será a questão.
Eu não tenho a resposta a essa pergunta, só posso propor algumas palavras de encorajamento. Edward Lorenz é bastante conhecido pela sua tremenda descoberta de que até os eventos mais pequenos, minúsculos e irrelevantes poderiam – dado o tempo, dada a distância – se desenvolver em catástrofes enormes e chocante. A descoberta de Lorenz é conhecida na alegoria de uma borboleta, em Pequim, que sacudia suas asas e mudava o percurso dos furacões no Golfo do México seis meses depois. Essa ideia foi recebida com horror, porque ia contra a natureza da nossa convicção de que podemos ter pleno conhecimento do que virá depois. Ele ia contra a teoria do tudo. De que podemos conhecer, prever, até mesmo criar, se necessário, com a nossa tecnologia, o mundo.
Lembro que nessa descoberta de Lorenz também há um vislumbre de esperança e é muito importante. Consideremos o que uma borboleta sabe fazer: uma grande quantidade de coisas. Não ignoremos os pequenos movimentos, os desenvolvimentos minoritários, locais e marginais. A nossa imaginação vai longe, além da nossa habilidade de fazer e arruinar coisas. Na nossa história humana, tivemos um número relevante de mulheres e de homens corajosos, que, como borboletas, mudaram a história de maneira radical e positiva. De verdade. O único conselho que posso dar, então: olhemos para as borboletas, são de várias cores, felizmente são muito numerosas. Ajudemo-las a bater as suas asas.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Wikidemocracia, a reforma política

PEDRO VIEIRA ABRAMOVAY

O que parecia ser algo apenas utópico pode se tornar real se soubermos aproveitar as inovações tecnológicas para a verdadeira reforma política


As praças espanholas estão lotadas de jovens protestando contra o sistema político. É claro que o desemprego causado pela crise econômica é um fator importante para essa mobilização. Mas o grande diferencial é que os jovens não pedem apenas por mais emprego.
Pedem por mais democracia. Pedem para que a política se transforme a partir da internet.
Debater a política a partir da internet não tem nada a ver com políticos criando blogs. Mas, seja no Egito, na Espanha ou em Higienópolis, as manifestações recentes nos mostram a força de mobilização contida nas redes sociais.
O jurista americano Yochai Benkler mostrou ao mundo que a riqueza da rede está justamente na possibilidade de criar inovações coletivamente. Não é à toa que a principal enciclopédia do mundo é feita a partir de uma construção colaborativa: a Wikipédia.
É chegada a hora de pensarmos em uma wikidemocracia.
O Ministério da Justiça, por exemplo, elaborou um projeto de lei para definir direitos dos cidadãos na internet, a partir de uma discussão inteiramente colaborativa, feita na rede.
Pela primeira vez pôde-se acompanhar os argumentos e negociações da confecção de um projeto de lei de forma pública e transparente, além de a participação ter contado com atores que nunca poderiam fazer seus argumentos chegarem ao debate. Essa é uma das possibilidades que uma profunda reforma da política pode nos apresentar.
Para dar início a uma transformação que consiga dar vazão às mobilizações políticas presentes nas redes sociais e aproveitar a força criativa aí existente na elaboração das políticas públicas há uma agenda delineada -e sempre aberta a ser reconstruída de forma pública. Essa agenda passa por quatro pontos, descritos a seguir.
1 - Amplo acesso a informações. Para que os diálogos públicos possam acontecer sem assimetrias é fundamental que as informações sob guarda do Estado sejam amplamente publicizadas, de forma a gerar não só controle sobre ação estatal, mas também criar o terreno para que ideias inovadoras apareçam. Para isso, é fundamental a aprovação do PLC nº 41/2010, projeto de lei que obriga o governo a divulgar ativamente seus dados.
2 - Acesso ao conhecimento. Não é possível construir espaço de debate público se não se promover uma revolução no acesso ao conhecimento; é fundamental debater limites ao direito autoral e às normas de propriedade intelectual.
3 - Proteção da privacidade. Em uma época em que os dados pessoais podem se tornar públicos com a violência que vemos hoje, é fundamental uma legislação moderna sobre proteção à privacidade. Há hoje um projeto de proteção de dados pessoais que o Ministério da Justiça debate com a sociedade; é fundamental sua aprovação.
4 - Ampliação dos espaços de construção colaborativa de políticas públicas. O projeto de lei sobre a internet é um bom exemplo, mas iniciativas assim devem ser multiplicadas. É possível criar uma cultura de debate público entre os cidadãos e entre eles e os governos, que possa realmente ser aberto a novas ideias, sendo também público e conectado com a mobilização da sociedade civil.
A geração que hoje está no poder foi politicamente forjada na lógica do conflito: não havia adversários, mas inimigos. A geração que se formou politicamente na vigência da Constituição cidadã deve construir uma política a partir do diálogo.
Um diálogo que não ignore os conflitos reais de opinião e de visão de mundo e que inclua a pluralismo como um valor central.
O que parecia ser algo apenas utópico pode se tornar real se soubermos aproveitar as inovações tecnológicas para pensarmos em uma verdadeira reforma política.

PEDRO VIEIRA ABRAMOVAY é advogado e professor da Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Fonte: Folha de São Paulo, “Tendências e debates”, 15/06/2011.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Polêmica "nós pega os peixe" II

Segue link para trecho do livro de Heloísa Ramos, Para viver melhor.
Leiam e comprovem:
http://www.acaoeducativa.org.br/downloads/V6Cap1.pdf

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Polêmica "nós pega o peixe".

Olha, pra falar sobre isso com mais propriedade, precisaria, pelo menos, dar uma vista d'olhos no livro de Heloísa Ramos. No entanto, emitirei algumas opiniões.
Parece-me, mais uma vez, "muito barulho por nada"; mais estratagema político para falar mal do PNLD e do MEC, do que uma preocupação e uma discussão genuína sobre como a língua deve ser apresentada às crianças.
Não conheço o livro "Para viver melhor" em detalhes, mas não é a primeira vez que um livro mostra às crianças os vários níveis de linguagem. Mario Bagno, só pra citar um exemplo, tem seu "A língua de Eulália" adotado há anos em escolas. E o livro é maravilhoso.
Antes de sair dizendo frases como a do autor Luiz Antonio Aguiar, "Está valendo tudo. Mais uma vez, no lugar de ensinar, vão rebaixar tudo à ignorância", é preciso ler com cuidado como o livro contextualiza frases como "nós pega os peixe". É fato que na linguagem mais cotidiana TODOS, repito, TODOS, fazem algum tipo de dita "incorreção". Eu não declino alguns plurais quando estou animada, conversando entre amigos, informalmente. Minha família é da Mooca, italianos, passei a infância no Tatuapé e, confesso, falo como os imigrantes italianos, sem declinar os plurais nos substantivos, apenas nos artigos. Sim, quando estou tomando umas "cerveja" com os "amigo", sentada nas "cadeira" do boteco, comendo uns "petisco", é assim que eu, revisora e preparadora, falo.
Sendo assim, qual o problema de se apresentar as crianças as diferentes formas do falar, as diferentes formas em que a língua se manifesta? Não concordo quando afirmam que "Os livros servem para os alunos aprenderem o conhecimento erudito". Livros são meios de informação, de todo e qualquer tipo, sobre o mundo, a vida. É tendo contato com a diversidade que o aluno vai apurar seu senso crítico, encontrar sua forma própria de se manifestar linguisticamente, escolher o tipo de literatura que fala mais ao seu coração e apurar o gosto ali, onde se sente bem, onde se sente mobilizado.
Acho muito corajosa a escolha dos responsáveis pela seleção do livro. Duvido que tenham sido irresponsáveis. A própria autora afirmou que não tem intenção de ensinar errado, "mas deixar claro que cada linguagem é adequada para uma situação. Por exemplo, na hora de estar com os colegas, o estudante fala como prefere, mas quando vai fazer uma apresentação, ele precisa falar com mais formalidade. Só que esse domínio não se dá do dia para a noite, então a escola tem que ter currículo que ensine de forma gradual".
Vale ressaltar, ainda, que o livro foi comprado para Educação de Jovens e Adultos. Os críticos já pararam para pensar quem é o público de EJA? É preciso aproximar o livro e a língua culta de maneira cuidadosa para não desestimular o aluno, principalmente esse público. Nada melhor que usar termos de adequado e inadequado, como sugere Heloísa Ramos, e não de certo e errado.
A norma culta é arbitrária, não é “natural” ou a “verdadeira”; é uma convenção histórica e que, graças a Oxalá, se atualiza também, também sofre influência dos padrões informais, da língua falada, cotidiana. Então, “deixemos de coisas e cuidemos da vida”. Vamos fazer esse país ler! Ler errado, ler certo, ler Crepúsculo, ler Machado. O caminho para formar cidadãos é a informação, ler é informar-se, ler sem preconceitos é ampliar horizontes.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Site oficial da Palimpsestos no ar!

Estamos comemorando a colocação no ar do site oficial da Palimpsestos. Está lindo! Passem por lá:
http://www.palimpsestos.com.br

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Indústria Cultural no Século XXI - Videos

Vamos postar aqui os vídeos das palestra que ajudamos a produzir no segundo semestre de 2010. Para quem perdeu e para quem quer relembrar.
Os vídeos estarão disponíveis também na nossa página no Facebook: http://www.facebook.com/#!/pages/Palimpsestos_Servicos-Editoriais/125543214184600

Robert Kurz:


Wisnik1:

Wisnik2:

Wisnik3:


Cohn1:

Cohn2:


Luiz Costa Lima:


Vladimir Safatle:



Venicio Lima1:

Venicio Lima2:


García-Canclini1:

García-Canclini2:


Ismail Xavier:

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Trabalhos em andamento

Editora Unesp:
- revisão de primeira prova para Projeto Edição de Textos de Docentes e Pós-Graduandos da Unesp.
Revista de Estudos Avançados:
- preparação de artigos sobre polinizadores para futura publicação em número especial.